Profissionais de várias gerações e universidades relembram como acompanharam a evolução

Entre os anos 70 até o final dos anos 90 e início de 2000, não havia programas de computadores para desenvolver projetos. Os projetos manuais, com desenhos feitos à lápis em cima de um papel chamado sufurize. Com o passar dos anos, o papel vegetal ganhou espaço, junto com nanquim preto e canetas de espessuras diversas, chamadas de penas. O passo seguinte era realizar cópias heliográficas em tom de azul escuro. Cabia ao desenhista copista desenvolver os desenhos dos projetos complementares (elétrico, hidráulico, estrutural, entre outros). Havia ainda a figura do desenhista detalhista e do desenhista projetista.

Um trabalho que demandava muito tempo. “Era tudo manual. Para se escrever num projeto, se desenhava letra por letra a partir de uma régua, utilizando uma peça chamada aranha para prender a caneta e transferir a letra da régua para o desenho”, relembra o engenheiro civil Giovani Nicásio Tres, diretor técnico da GNT Engenharia.

Giovani atua no mercado desde 1988. Passou por todas as fases de evolução da engenharia. Foi desenhista copista, detalhista e projetista até sua formação em engenharia. É um especialista em sistemas hidráulicos e de proteção contra incêndio.

Quando precisava alterar algum detalhe no projeto, o desenhista apagava o nanquim com gilete. Literalmente raspava, permitindo redesenhar. Um trabalho minucioso para não furar o papel.

Engenheiros e arquitetos tinham como ferramentas essenciais, a calculadora, as penas de até 0.2 mm, gabaritos, o papel vegetal, gilete, borracha de areia, borracha plástica, prancheta e alguns escritórios maiores contavam com a régua tecnigrafo, com pranchetas elevatórias e inclináveis. Escritórios menores contavam com réguas paralelas ou régua “T”, transferidor, compasso e esquadros de 45/90 graus 30/60/90 graus.

Processo de transição foi difícil

A partir do final dos anos 90/2000, iniciou-se um projeto de transição, com várias etapas evoluindo para o virtual. “Mas não foi fácil”, contou Giovani Tres. Foram mudanças drásticas, onde do dia para noite as ferramentas usuais até então foram abandonadas para mergulhar no mundo digital mesclado com processos manuais. Um plotter analógico substituiu as canetas. Depois as plantas ali reproduzidas eram transferidas para um papel vegetal e posteriormente suas cópias heliográficas.

A tecnologia avançou mais um passo com a introdução dos plotters digitais, consolidado até os dias atuais. Todo o projeto é concebido no computador com programas específicos. Giovani passou por toda essa evolução, trabalhando com a prancheta manual, depois o AutoCAD e a nova revolução, a partir de 2010, com o método construtivo BIM (Modelagem da Informação da Construção).

A tecnologia avançou mais um passo com a introdução dos plotters digitais, consolidado até os dias atuais. Todo o projeto é concebido no computador com programas específicos. Giovani passou por toda essa evolução, trabalhando com a prancheta manual, depois o AutoCAD e a nova revolução, a partir de 2010, com o método construtivo BIM (Modelagem da Informação da Construção).

Agora mais um processo de transição: “Quem trabalha no CAD puramente vai precisar reaprender a fazer projeto e assim modelar tudo isso para se ganhar do 3D e não puramente o 3D”, assinalou o profissional. Em escritórios europeus já se fala em 7D, com toda informação controlada sem pisar o pé nela.

No canteiro de obra, outra mudança radical. O papel deu lugar ao tablete nas mãos do engenheiro, do empreiteiro ou do mestre.

A vivência dos profissionais formados na era digital

Em seu nono semestre de curso (Furb), o acadêmico de engenharia elétrica Mateus Finardi, iniciou a carreira profissional aos 17 anos já vivenciando as vantagens oferecidas pelas soluções tecnológicas. Passou por quase todos os setores da P3 Engenharia Elétrica, onde atualmente ocupa o cargo de gestor do departamento de obras da empresa.

Mesmo sendo um profissional do mundo digital, Mateus conheceu um pouco processo de desenvolvimento de projetos no papel e essa evolução é a que considera a mais gritante. “No digital é muito mais prático e as formalizações são muito mais assertivas”, comentou.

No desenvolvimento das obras, a digitalização também trouxe uma possibilidade de acompanhamento muito mais inteligente na análise de Mateus. Desde a definição do cronograma, passando pelo controle financeiro, automatizando e integrando cada etapa. Qualidade e velocidade na informação e menor tempo utilizado numa determinada atividade.

Os aplicativos de mensagens como o WhatsApp também se tornaram grandes aliados na tomada de decisões, nas conversas com clientes, fornecedores e com as equipes do canteiro de obras. “Se um técnico em campo tiver alguma dúvida de instalação, ele pode tirar uma foto e enviar ao escritório. Coisa impensável no passado”, relembra. E tudo fica registrado e até formalizando, quando é possível.

Evolução tecnológica permitiu agilidade na aprovação de projetos

Num passado não muito distante, projetos e processos, mesmo desenvolvidos em computadores, com softwares específicos, exigia um tramite legal e moroso junto aos órgãos públicos, com um bom volume de papel consumido. Além disso, muito tempo envolvido em deslocamentos, tempo de estrada, assinaturas de documentos em papel, demora e dificuldade no acompanhamento de seu andamento, entre outras. E se houvesse necessidade de alterações, retrabalho e mais tempo desperdiçado.

Com o passar do tempo, especialmente com a evolução tecnológica e a pandemia que aceleraram processos, os softwares também foram aprimorados. Os órgãos públicos também se movimentaram para dar celeridade aos processos. O que antes era uma correria presencial, pode se dar andamento de forma digital, inclusive na assinatura da documentação. “Muito mais ágil. Envia aos órgãos para análise pelo sistema, gera o protocolo e permite a consulta em tempo real, não se perde informação e otimiza o tempo”, explicou Jaison William Spolavori, diretor operacional da P3 Engenharia Elétrica.

Como as universidades acompanharam os avanços tecnológicos

Blumenau é uma referência na construção civil, especialmente em projetos industriais e agora com edifícios altos que começam a ocupar espaço no horizonte. Prestes a completar 50 anos de existência, o curso de engenharia civil da Furb tem parcela importante neste processo, na formação de profissionais.

O BIM veio para ficar na Furb. Desde seu surgimento em 2010, a Furb promovia cursos de extensão para uso do programa, o Revit principalmente. O acadêmico tem acesso aos softwares de forma gratuita. Em 2019, antes da pandemia, a universidade promoveu a revisão curricular no curso. “Nessa atualização foi contemplado o ensino de ferramentas BIM em projetos. Somos umas das universidades pioneiras, a única em Santa Catarina, a oferecer ao aluno a formação no Revit, já a partir do terceiro semestre”, destacou Abrahão Bernardo Rohden, coordenador do curso.

Além disso, a universidade promove semanas de estudos e integração com profissionais, a exemplo da Semana BIM, realizada em maio. E ainda trabalham no laboratório para desenvolver seus estudos, onde o aluno consegue materializar fisicamente, imprimindo seus projetos em 3D.

Unisociesc

Na Unisociesc, o processo evolutivo também mereceu atualizações e a inteligência artificial é uma realidade entre os alunos do curso de engenharia civil. Na pandemia o processo acelerou. O ensino remoto ganhou espaço, mas sem dispensar o presencial, comentou o professor Rafael Jansen.

O modelo curricular da universidade permite associar cursar uma disciplina associada a uma atividade profissional na construção civil e infraestrutura. Uma frente aberta que oportuniza ao aluno uma formação integral, com teoria e prática.